Amamentar ou não, eis a questão?


 by Louis Fleckenstein, c. 1900.


Há algum tempo, a minha prima que vive na terra das oportunidades do outro lado do Atlântico perguntava-me se iria amamentar. Quando lhe disse que gostaria de o fazer deu-me os parabéns. Estranhei, mas depois explicou-me que o “comum” por lá era o oposto e que ficava feliz por Portugal ser um país pro breast feeding. Em conversas com a família e amigos francófonos, fazem-me a mesma questão.
Em Portugal, penso que por educação e orientação, o comum é este tipo de pergunta nem se colocar. O “comum” é amamentar, por isso nem se pergunta. Pelo menos nunca me perguntaram. Eu também nunca me questionei. Vou ser mãe, tenho um peito a aumentar a olhos vistos e conhecendo toda a ciência por trás das virtudes do leite materno nem me parece que isto seja uma questão. Pelo menos para mim. Mas isto sou eu e é o meu corpo. E eu sou senhora e dona do meu corpo. Gostava de amamentar porque quero fazê-lo, porque considero que é o melhor para o meu filho. Não quero amamentar porque algo me obriga a isso ou porque sou forçada a fazê-lo. Ninguém manda no meu corpo. Isso seria uma violação dos meus direitos.
Comecei a pensar sobre isto quando li esta notícia no Público: “O Governo da Venezuela, liderado pelo Presidente Nicolás Maduro, quer tornar a amamentação obrigatória. A proposta de lei que apresentou à Assembleia Nacional e que começa a ser discutida na terça-feira visa incentivar as mulheres a darem o seu leite aos filhos e limita a publicidade a leites para bebés.”
O problema de tudo isto é a palavra obrigatória. Em vez de investirem num programa de educação e consciencialização para a importância do leite materno, obrigam. Apesar de achar que o ideal é amamentar, não posso concordar com o obrigar. É o ideal para mim, mas não tem de o ser para todas. A gravidez, o parto, e a maternidade em geral apesar de um processo natural é uma transformação brutal para o corpo de uma mulher e ninguém tem o direito de obrigar ninguém.
E quem não o fizer vai pagar uma multa ou vai preso?
Quando perguntei à minha prima o porquê de não amamentarem, disse-me que a maioria das amigas não o fazia porque não queria ter de assumir sozinha a responsabilidade da alimentação do bébé. Ou seja, na realidade queriam o apoio dos companheiros. É um argumento como outro qualquer. Vazio, na minha opinião, mas não é obrigando que se mudam mentalidades. É educando para os benefícios e para as virtudes.
Sei que estou a opinar e ainda nem cheguei a essa fase. Não faço ideia de como será. Sei apenas que não queria que ninguém tivesse direito de propriedade sobre o meu corpo, ou sobre a minha liberdade enquanto mãe e enquanto indivíduo.

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