Mesa de jogo

Um quadrado: liso, macio e verde. Em cada sua aresta, um homem com a cabeça uns cubos pequenos e de faces desigualmente pintalgadas. Jogam à vez.
Satélites comigo, outros auram o acaso, curiosos, atirando ao ar razões que nunca servem. Talvez por isso, pairemos acima do todo. Num movimento, mais uma vez, um dos jogadores gera dos cubos a improbabilidade maior, nascida para ser diferente das outras, suas iguais.

Esse que joga, de meia idade, rodeia de uma farta e branca cabeleira olhos de branda contemplação. O nariz, desenhado de curiosidade e decisão, trai-lhe a herança de um povo escolhido. A boca sorri do que sabe.
Incauto, o que lhe está ao lado exclama: "Este homem joga como um Deus!".
O que jogou, olhando-o claro, diz-lhe: "Deus não joga aos dados, homem! Para jogar, como para criar, é indispensável não saber tudo".
De entre os que observamos por cima, ouve-se uma voz funda e eterna, como vinda de todos os lados: "Não, Albert, Deus não joga aos dados.
Deus, quieto, apenas assiste ao vosso jogo, para sempre."

José Gaspar Ferreira

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