Guardians
Photos by Andy Freeberg
Quando há dois anos visitámos São Petersburgo percorremos muitos museus. E em todos esses museus encontramos uma coisa em comum. Sentada
no meio da sala, ao fundo da sala, atrás de um recanto, entre dois quadros,
escondida por entre uma escultura estava uma senhora que podia ser minha avó. Nossa
avó. Sossegada e em paz, zelava pelas obras que acolhia no seu regaço. Quando
perguntámos disseram-nos que dadas as baixas reformas era uma
forma de poderem continuar a trabalhar umas horas por dia. Primeiro fez-me
confusão. Pensei na minha avó. Uma vida inteira de trabalho e ainda assim ter
de trabalhar. Mas depois pensei na minha avó. Pensei nos avós no geral. Para
algumas pessoas a reforma faz-lhes perder o propósito. Perder o sentimento de
necessidade de existirem. Pensei que afinal talvez fosse uma maneira de
continuarem activos, de significarem.
Ontem encontrei isto e recordei com carinho São
Petersburgo. Passeei os olhos pelas fotos. Pelas nossas fotos. E recordei com carinho a velhota que
quase me deu um puxão de orelhas em pleno Hermitage, quando sem querer e depois
de muitos km percorridos entre quadros, esculturas e afins decidi encostar-me àquilo que me pareceu ser uma mera parede. Subitamente a senhora levantou-se da
sua cadeira e desde o fundo da sala veio ter comigo a ralhar-me em russo. Eu
respondia-lhe em Português. E apesar da Torre de Babel linguística
percebemo-nos. Aparentemente não fui a primeira e isso dava cabo da dita parede
outrora doirada. A foto da senhora a apontar e de nós todos a olhar literalmente para o tecto vai sempre fazer-me sorrir.
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