My mind holds the key
Lembro-me de contares a história daquela mulher que um dia a caminho do trabalho se perdeu para sempre em si.
Era um dia como os outros. O sol brilhava e o frio cortante de Janeiro entrava pela janela que abriu para a manhã. Olhou para a cama, ele continuava serenamente envolvido no sonho, e foi repetir os gestos de todos os dias. Acordou o miúdo com beijos que lhe cobriam as bochechas, vestiu-o e enquanto tomava o pequeno-almoço ouvia as notícias no rádio. Deu um beijo ao marido e saiu para mais um dia em tudo diferente dos outros.
Nunca mais souberam dela. Até uma semana mais tarde. Estava catatônica. O mundo exterior morrera para ela. Encontraram-na sentada no metro sem reacção, sem resposta, sem vontade. O marido recuperou-a numa cadeira em frente à televisão num quarto do hospital. Igual. Olhos vazios, sem reacção, sem resposta, sem vontade. E assim continuou. Sem motivo. Aparentemente.
Onde fica a fronteira, entre o ponto em que o copo está cheio e não dá mais para engolir? Qual o momento em que o interruptor se desliga? Ou liga, não sei qual. Talvez esteja em cada um de nós. Talvez esteja lá fora. Talvez esteja no modo como dentro de nós vivemos o que se passa fora. Ou em tudo isto ao mesmo tempo.
A enfermaria das mulheres é a pior, dizias.
My body is a cage,
by Peter Gabriel
My body is a cage that keeps me
From dancing with the one I love
But my mind holds the key
ella
ella
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